segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Instituto de Educação Manuel Bento da Cruz - Eterno armazém do saber

Crônica:Armazém do ensino e da saudade

Era um tempo em que as escolas públicas eram concorridas de tal forma que fazia-se reserva de vagas, para garantir um estudo melhor para os filhos.
Uma época em que as escolas, com um orgulho sem medidas, despertavam em seus alunos, o prazer em aprenderem o seu próprio hino, que depois era cantado nas festividades cívicas com ufanismo pela instituição que representavam.
Não é um saudosismo barato que vem à mente neste momento, mas tudo o que nos rodeava naquela época era digno de orgulho.
A nossa escola chamada , antes Instituto de Educação Manoel Bento da Cruz era tratada como um templo e a consideração era tanta que por muitas vezes , mesmo em dias que não tínhamos aulas,sentávamos no murinho defronte a escola e lá com outros colegas conversávamos sobre as proezas vividas dentro e fora desse abençoado Armazém do ensino e em outras ocasiões quando pela calçada, nos surpreendíamos fazendo o sinal da Cruz, como se estivéssemos diante de um altar sagrado.
Esta suposta nave espacial nos proporcionou centenas de vezes, momentos de sacrifício, de descontração, de alegria, de emoções fortes, de corretivos e até suspensões que hoje lembrando não nos fazem mais revoltados ou menos seres humanos.
Os gênios austeros do saber tinham prazer em serem assíduos na sua tarefa de comparecerem e transmitirem conhecimentos.A amizade que mostravam ter por nós, alunos, fica longe do que vemos hoje nas escolas públicas.A amizade, trocada com respeito, era representada pelo dever apenas de ensinar, ensinar e...ensinar.
Grandes mestres pela nossa vida ali passaram , como Humberto Lubus que na sua certeza e auto –determinação fazia-nos devorar frequentemente jornais, revistas de atualidades bem como livros de romance .E , na ânsia de querer que seus discípulos soubessem grande parte do acervo cultural que ele carregava, era sério, muitas vezes sisudo, exigente e permita-me dizer um “falso insensível”-porque era claro que assim fazia para que tomássemos gosto pela nossa língua - com disciplina e responsabilidade -pois ao perceber nos “Cadernos de Atualidade” que a ele apresentávamos- após 30 dias de pesquisa e redação,- uma simples palavra com erro de grafia era suficiente para que ele avaliasse com notas baixas... e ainda , ao presenciar sua alunas chorando diante da nota aplicada, olhando por baixo da armação dos óculos, dizia secamente a frase:”Lágrimas não me comovem”!Os que tinham tino para a Língua Portuguesa certamente hoje louvam a atitude dele, que sem nenhum tipo de egoísmo desejava que seu pupilo soubesse até mais que ele, a língua do próprio país e as regras que a regem.
Na Matemática, Shirlei, Moacir Rubira Dassy -o mais simpático e alegre professor de Matemática que já vi - tão amigo e senhor dos números , não vacilava nunca ao reconhecer dentro e fora da escola, as centenas de
alunos seus, chamando-os pelo respectivo número de chamada.Essa estratégia faz-me lembrar dos meus números:19 e 26.
O maetro Raab, com paciência ímpar, nos ensinava música, principalmente o Hino da nossa escola ,que ele com a sensibilidade de um artista e a devoção de um mestre, nos acompanhava ao piano.Tal amor , foi herdado pela sua filha também professora de música, Cecília Raab, um encanto , por dentro e por fora!!! Levi e dona Leila.nas aulas de laboratório. Sr Abranche José e Célia, Paulo Sérgio ou Sérgio Paulo,Hermínio Zonta,que com seu timbre de voz misturava o sotaque da região sul do Brasil de onde veio , com a retórica própria da sua profissão paralela:a advocacia, seu modo pesado e ao mesmo tempo determinado de andar e o seu jeito comedido todo especial de um ex - quase padre e seu fanatismo pelo clube do coração , o Palmeiras , que por tanto amor, levava os alunos a acompanharem pelo jornal da nossa cidade, suas crônicas sobre o cotidiano, crônicas estas que ele sempre terminava com a célebre frase: “Saudações Palmeirenses”.Como não lembrar da dona Geni Barbosa cujo modo conservador de ser, muitas vezes incomodava os alunos displicentes e ditos “moderninhos” que em seus modos de se portar, proporcionavam aos que dela gostavam e admiravam, mais e maior admiração pelo alto poder dela, de paciência,perseverança competência e persistência.Dona Sara Barbosa ,professora de Geografia , nos trazia, o mundo através dos seus ensinamentos.Por intermédio de seu amor por toda a matéria, nos fazia viajar por todos países e continentes com uma entrega total, através das entrelinhas dos livros,dos traçados dos mapas e dos passeios de reconhecimento do solo, do chão, do relevo. Professora Walderez que através dos seus desenhos tinha o doce poder de descobrir quem tinha talento para desenhos geométricos e os fazer amar e com que os que não tinham aptidão, se afastassem e odiassem os hexágonos, heptágonos, ou sei lá , o que...Certamente estou, percebam leitores , dentre os últimos citados. Clineu , que Física!!!!Com um currículo invejável por ter cursado uma das maiores e melhores universidades na época ,mas graças à habilidade bem própria dos descendentes ocidentais, seus ensinamentos eram bem-vindos por todos esses estudantes que , até hoje , como ocidentais, trazem na sua genética, a competência admirável pela disciplina...Era o prof Clineu,um profissional rígido nas suas aulas, mas que fora da sala fazia questão de emitir sempre um cumprimento ainda que meio surdo, a todos alunos que encontrasse . Kazuo,um figura carismática, cuja Química que ministrava, nos era apresentada de maneira agradável, através do constante sorriso nos lábios,do apagador que trazia sempre nas mãos , do seu olhar bem significativo , mostrando a certeza do que ensinava, a sua performance com suas camisas de cores diferentes:
vermelha, azul petróleo, verde , um colorido que nos levava a fazer um paralelo com a tabela periódica, seu material didático , inseparável além de ,criar em nós uma admiração eterna pela sua pessoa.
O professor -político ou o político-professor:Floriano Camargo que sentado sob a mesa discorria sobre organização política e estudos sociais , como ninguém ....de cuja matéria e pessoa sentimos saudades eternas. Dona Wilma ou será Vilma Guimarães ?uma dama do magistério,linda interna e exteriormente , excelente entendedora de botânica, nos introduziu ao mundo das experiências:.saudade do pezinho de feijão brotando...!!!.
.Elnee Marília, cuja figura nos transformava automaticamente em psicólogos para decifrar como ela era...tão doce, tão comunicativa mas ao mesmo tempo tão enigmática,ensinou-nos a lógica das ideiasmas nunca descobrimos o porquê fumava de maneira compulsiva.Cidinha Baracat,amante de todas as artes,uma poesia em forma de mulher.:de Olavo Bilac, Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e tantos outros..Saudade do Navio Negreiro!!! incutia com tanto amor que suscitava em quem assistia suas aulas, a possibilidade de “encarnar”o personagem principal de cada romance, a mulher amada, o eu-lírico de cada poema! Rigor,disciplina , organização, respeito, asseio, responsabilidade eram palco para as aulas da temida Edwirges Correia, tão séria e tão profissional com um preparo físico invejável que fazia questão de exibir ao pilotar sua bicicleta -naquela época nem existiam marchas, creio..todos os dias, a partir das 6 horas da manhã quando começava a sua jornada de trabalho... com orgulho promovia os “jogos de outubro”, distribuindo seu grande corpo discente em grupos ou times que, angariavam fundos junto às empresas da cidade e como prêmio tinham o nome de suas empresas estampado nos nossos uniformes de jogos,como patrocinadores do evento.Os jogos tinham sua abertura com o desfile de , nós , alunos, pelas principais ruas da cidade , marchando, ou fazendo evoluções com bicicletas coloridamente enfeitadas e acompanhados por Edwirges que marchava, ostentando uma postura invejavelmente ereta no seu uniforme composto de camiseta e de calças compridas de uma brancura inigualável .Naquele tempo, sim, essa disciplina , da forma que era ministrada, carregava, merecida e honrosamente o nome de Educação Física , tanto pelas ações de Prof Edwirges como da Prof Irma e do Prof Anubes , ícones nessa disciplina.A professora Célia José, que com seu andar calmo com palavras pronunciadas pausadamente, nos ensinava a História do Brasil e do mundo, bem como as atualidades através dos recortes de jornais que cobrava de nós, através da exposição do nosso entendimento.Abranche José, um professor austero, que mostrava através do bigode uma sisudez que na verdade não era tanta, um profissional por excelência , que seriamente queria que amássemos a Química como ele o fazia tão bem. Todos que pelo nosso caminho passaram, deixaram exemplo de nobreza, honestidade, respeito, coleguismo, abnegação,lealdade, sacrifício, profissionalismo, solidariedade, cooperação..enfim, exemplo de um verdadeiro Ser Humano alicerçado no dever e nos estudos porque ,a cada dia eles nos fizeram acreditar na máxima:Tudo vale a pena se a alma não é pequena ..E como sempre a nossa doce Leonora nos ensinou numa das tantas regrinhas matemáticas:A ordem dos fatores não altera o produto . Eles sempre foram: alma, mente, coração e intelecto..ou coração, mente alma, intelecto, ou..........Obrigada professores, que bom que passaram pela nossa vida.Obrigada por tamanho privilégio!Vocês não são apenas saudades, são lições de ensino armazenadas em nós para sempre

4 comentários:

Rita Lavoyer disse...

Oi Luzia. Maravilha o seu blog. Já fiz propagando dele aos amigos. Espero que faça sucesso. Fui adicioná-la à minha lista de amigos, como eu sou bem craque nisso, acabei por perdê-los. Não sobrou um. Agora preciso de alguém que me ajude a recuperá-los. O meu blog ficou manco. Socorro!

Donxel disse...

Professora Luzia, eu não pude terminar a leitura ainda, quero poder voltar e começar a ler novamente...e assim eu volto e recomeço, e recomeço de novo.Um grande beijo e continue nos contando a sua lição, sempre.

La pace di Dio sia con te

Anônimo disse...

Lu tou seguindo seu blog =) coloca seguidores aí p ser mais facil (=

jorge disse...

Luzia,
pelos personagens (professores) vejo que fomos contemporâneos. Hoje, sou professor universitário no ABC paulista e sempre que posso revejo a minha querida cidade e escola.
Gostei e mantive a saudade da época e do "Institutoæ

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